segunda-feira, 4 de abril de 2011


O homem está condenado a ser livre"

Planeta Sustentável

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ESTE PLANO DE AULA ESTÁ LIGADO À SEGUINTE REPORTAGEM DE VEJA:
  • Betty Milan – O Desafio da Liberdade - 06/05/2009
Conteúdos 
Ideais, utopia e pensamento filosófico

Habilidades 

Refletir sobre as diferentes visões de liberdade propostas por pensadores do século XX

Tempo estimado
Duas aulas
O título desse plano de aula é uma frase célebre proferida pelo filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980) que resume um dos pontos certamente mais essenciais para a compreensão da liberdade, não apenas como um dos grandes ideais da modernidade, quanto também como um de seus maiores desafios. O texto de colunista de VEJA Betty Milan também cita Sartre e serve de ponto de partida para um debate filosófico sobre o que, afinal de contas, é a liberdade.

1ª aula - 
Anote no quadro a frase que dá título a esta aula. Em seguida, promova um pequeno debate entre os alunos, indagando o que entendem da afirmação de Sartre. Depois de ouvir algumas respostas espontâneas, procure deixar bem claro o paradoxo inerente à sua construção: se por um lado, o conceito de liberdade é algo, em princípio, radicalmente oposto a toda e qualquer forma de repressão, por outro, é ao mesmo tempo algo a que os homens se encontram necessariamente sujeitos. Isso porque, segundo o filósofo existencialista, não há como escapar do fato de sermos humanos, na medida em que somos levados a fazer uso precisamente daquilo que nos distingue enquanto tais: a liberdade.
Entretanto, se pensadores como Sartre enfatizam a liberdade como uma disposição, por assim dizer, inata ao ser humano, autores como Sigmund Freud (1856-1939) ficaram famosos ao ressaltar exatamente o oposto. Para o pai da psicanálise, “a história do homem é a história de sua repressão”. Em outras palavras, a própria ideia de civilização é inseparável da atuação de mecanismos institucionais de contenção a determinadas tendências e impulsos naturais (como, por exemplo, os instintos sexuais), cujo descontrole poderia mesmo resultar no fim da possibilidade de um convívio social ordenado ou pacífico entre os homens.
Até hoje bastante polêmica, a teoria de Freud foi, contudo, revista e vigorosamente criticada por um dos representantes da Escola de Frankfurt mais lidos e comentados, não por acaso, durante os contestadores anos 1960: Herbert Marcuse (1898-1979). Ao contrário de Freud, o filósofo sustenta que a civilização é perfeitamente compatível com o exercício da liberdade, para a qual os homens se encontram natural e historicamente qualificados. Para ele, o atual desenvolvimento técnico e tecnológico, enfim, tornou possível a emergência de uma nova ordem social, na qual a beleza, a liberdade e a felicidade não são noções apenas utópicas, mas fundamentais para o estabelecimento de um outro princípio de realidade essencialmente não-repressivo.
Consideradas excessivamente “românticas,” as teses de Marcuse foram, em grande medida, combatidas pelas análises do francês Michel Foucault (1922-1984). Entre suas ressalvas às ideias do colega, o autor destaca que a rígida oposição entre os termos “liberdade” e “repressão” se tornou bastante relativa com as novas formas de dominação utilizadas nas sociedades contemporâneas. Foucault mostra que os dispositivos de controle evoluíram a ponto de se tornar muito mais sofisticados e sutis do que aqueles adotados pelos agentes repressores típicos de regimes totalitários como o de Stalin e Hitler, décadas atrás. Neste sentido, o filósofo usa o termo “poder flexível” para se referir aos processos subliminares de manipulação e preservação da ordem adotados na gestão das chamadas sociedades de consumo – como, por exemplo, através do marketing e da propaganda.

A Liberdade Guiando o Povo: a obra de Eugène Delacroix, pintada em 1830, comemora a queda do monarca Carlos X. Foto: Divulgação/Museu do Louvre
A Liberdade Guiando o Povo: a obra de Eugène Delacroix, pintada em 1830, comemora
a queda do monarca Carlos X. Foto: Divulgação/Museu do Louvre
2ª aula - Proponha à garotada um seminário, organizado na forma de um julgamento, no qual você, professor(a), deverá assumir o papel de juiz. Para isso, divida a turma em dois grandes grupos: o de “acusação” e o de “defesa”. No banco dos “réus,” encontra-se a ideia de liberdade como princípio civilizador. Com base nos argumentos de Freud e Foucault (previamente preparados por seus “advogados”), o primeiro grupo deverá enfatizar o sentido da repressão para a manutenção da ordem civilizada – tanto no plano individual, quanto no coletivo. Em contrapartida, amparado pelas ideias-chave de Sartre e Marcuse (devidamente expostas por seus representantes), o segundo grupo deverá defender o exercício da liberdade como sustentáculo da civilização. Ao fim da aula, faça uma síntese dos principais pontos em jogo, reconhecendo o grupo cujos argumentos foram mais convincentes durante as discussões. Para concluir, pondere sobre os riscos de supervalorização de um pólo em detrimento do outro, retomando, como encerramento, a paradoxal sentença de Sartre: “O homem está condenado a ser livre.”
Aula sugerida por Aléxia Bretas
Doutoranda em filosofia pela Universidade de São Paulo.

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